19/11/2015

A Coxinha Estragada

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 Acordei tarde hoje e desobedecendo meu costume não fiz almoço, então fui á lanchonete da quadra comer um salgado. Não que eu seja do tipo que se satisfaz fácil (as "primas" da zona que o digam), mas ordinariamente não como muito no almoço, prefiro comer mais na janta, assim posso dormir de "bucho cheio" como diria seu "Maneu".

 Quando cheguei havia apenas uma coxinha na estufa, e estava exuberantemente convidativa, talvez pela minha fome, ou por ser a última, o aspecto geral me agradou. Também me agradou a moça que estava atendendo, bastante simpática, bonita a bicha ó, dessas de tirar o fôlego. Aparentemente estava em treinamento, porque tinha uma senhora de mal-humor e um cigarro, inapropriadamente perto da comida, na boca, que lhe dizia tudo o que ela tinha que fazer.

 Peguei a coxinha, paguei e fui andando e comendo, pouco depois da segunda mordida, quando chegamos na parte do recheio, para minha decepção o frango estava azedo e quase vomito ali mesmo. Pensei logo em ir lá reclamar mas aí achei melhor não, talvez isso custasse o emprego da moça bonita e creiam-me, nada me comove mais que uma moça bonita, talvez duas. Enfim, próximo parágrafo.

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 Andar e comer é coisa que nos remete a reflexões e pensamentos que sentados não teríamos, caro leito, se tiveres a oportunidade faça isso e depois me conte. Ao chegar no meio da rua pensei em jogar fora logo a coxinha e comprar outra coisa, ocorre que acabou me batendo um pensamento que muitas das minhas roupas velhas serviam pra outras pessoas como novas. Talvez o que eu não conseguia comer poderia ser a única refeição de algum mendigo, que provavelmente lha pegaria do lixo.

 Vi um mendigo na minha frente, não estava pedindo dinheiro, apenas comida. Achei interessante a coincidência e já ia lhe entregar a coxinha, quando me bateu outro pensamento: o de que ele poderia adoecer e morrer por causa de uma comida que eu lhe dei. Se ele pega do lixo e come e depois morre é problema dele, mas se morre por causa do que eu lhe dei, sou eu responsável pela sua morte. E se alguém na rua me visse dando a coxinha e logo depois o mendigo morre? Iam pensar que dei a coxinha com veneno pra ele morrer. No final das contas, acabei dando-lhe uma nota de dez e mandei que saísse de perto de mim porque estava fedendo.

 Novamente andando com a coxinha na mão e pensamentos á mil, vi um gato magricelo na rua. Estava desnutrido o coitado e que mal poderia fazer uma porcaria a mais que ele comesse? Além do que ninguém me acusaria de matar um gato de rua, ou ao menos não seria preso por isso. Decidi que daria pro gato o salgado. Novamente, infelizmente, refleti mais um pouco e vi que nem mesmo os animais de rua deveriam comer coisas estragadas e que, se aquela seria sua primeira refeição em dias, achei que o certo seria que fosse uma boa refeição. Entrei num comércio perto da rua comprei-lhe alguns petiscos próprios para gatos e um copo de leite.

 Continuei minha jornada, eu, meus pensamentos, e a coxinha estragada. Em alguns momentos pensei até que ela já estava falando comigo, tentando me explicar algo que eu não havia compreendido ainda. Não sou de dar muito papo para salgados, sobretudo os estragados, mas que mal faria? Decidi olhar mais atentamente para ela e só então percebi, que havia gueiroba na danada, daí o gosto azedo. Tirei o palmito amargo da coxinha e comia-a com bastante satisfação.

Ouça a crônica. 

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O dia em que meus fones de ouvido salvaram minha vida


  Essa é uma dessas típicas historietas que nos acontecem apenas uma vez na vida e que, a partir daquele momento, teremos uma visão diferente das coisas. Outros dirão que esta é apenas mais uma história para contar nas festas de ano ou no Natal entre os familiares, do tipo “é pra ver ou pra comer” e essas outras insanidades, que só começam a ter graça depois da décima taça de champanhe.
 Mas que dizia? O sim, a história, vamos a ela. Estava no transporte coletivo, com meus fones de ouvido, coisa que sempre uso, na verdade eu nem ouço coisa nenhuma é apenas pra não ter que, eventualmente, conversar com algum estranho (ou conhecido, não sou muito de conversas públicas). No dia em questão, com os fones nas orelhas, como de costume, sentou-se um senhor, bastante consternado e tremendo um pouco, aparentemente  estava sob efeito de alguma droga.
fones de ouvido salvadores
   Pois bem, esse senhor, sentou-se no banco ao meu lado, percebia que ele queria conversar (se é que isso era possível no estado em que ele estava) porque de vez em quando ele olhava para mim, como que com algum segredo que só contaria para mim  e não queria que ninguém mais soubesse. Ele olhou de novo, de novo e de novo, e percebendo que eu não tiraria meus fones e aparentemente não estava lhe dando a mínima, levantou-se e foi se sentar ao lada de uma senhorinha, dessas religiosas, de terço e tudo sabe?

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  Em alguns minutos nosso amigo começou. Abriu a boca e falou uma quantidade enorme teorias sobre o que era cada coisa e porque acontecia isso ou aquilo. Uma delas dizia respeito ao porque dos carros terem o teto do mesmo material que o resto, o que, segundo ele, era uma medida do Governo Imperial Secreto para inibir o ataque de extraterrestres. Esse era um dos motivos para os governos não investirem em transportes alternativos como bicicletas ou outros tipos de carros. Para ele apenas os conversíveis não tinham caído na armadilha do Governo Imperial. Bem, as teorias desse doido (embora, estranhamente tudo que ele disse possuia alguma lógica) dariam outra crônica. Talvez conte essas teorias ao meu amigo Chaguinha e ele, sob efeito de algum chá possa escrever-lhes.
  Cabe terminar a crônica, pois o seu tempo não é capim e também tenho mais o que fazer. Então como dizia, esse senhor começou sua narrativa de tramoias e armações que durou algo em torno de meia-hora, eu já estava para descer em meu ponto, felizmente pude ver o desenrolar da história. No meio dos desvaneios do doido a senhorinha começou a falar sobre as bençãos do Senhor para a vida dele e que Deus poderia restaurá-la. Em meio ao falatório, de ambas as  partes, de repente o louco pega a bolsa da senhora e dá-lhe um tiro no meio da testa, dizendo para mulher ir conversar com Deus pessoalmente, pela expressão dele parecia que ele estava fazendo-lhe um favor . Daquele dia em diante sempre ando com um fone a mais na bolsa.


Morte acidental

          Enquanto ele falava, eu arrumava a churrasqueira até que todos viessem. Era uma típica festa de firma, onde as pessoas vão par...